Projectar com o Património – Regeneração urbana de um sistema de espaços públicos no Centro Histórico de Faro: Projecto de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental do Largo de S. Pedro, do Largo do Carmo e do Jardim Catarina Eufémia.
Nas últimas décadas a cidade histórica tem vindo a ganhar um protagonismo renovado no processo de regeneração urbana, assumindo a reabilitação do espaço público um papel relevante no conjunto das políticas destinadas à melhoria da qualidade do ambiente urbano e da qualidade de vida da população quer residente, quer visitante. A cidade herdada é consensualmente considerada como um património a conservar ou revitalizar nas suas componentes social e cultural, mas também económica e infra-estrutural. Na revitalização dos centros históricos, reforçada pela tendência da patrimonialização, da identidade e dos sectores económicos em expansão nas áreas do turismo e da cultura, é dada súbita atenção ao espaço público, depois das modificações induzidas pelo automóvel e pelas novas vivências urbanas. O projecto de requalificação urbana e paisagística do Largo de S. Pedro, do Largo do Carmo e do Jardim Catarina Eufémia, enquadra-se nesta problemática, no pressuposto de que o centro urbano de Faro é um espaço dinâmico e multifuncional onde convivem em tensão permanente funções residenciais, religiosas, turístico-recreativas, culturais e administrativas.
O conjunto de projectos de requalificação urbana que se apresenta foi desenvolvido no âmbito da disciplina de Projectos de Arquitectura Paisagista V do 3º ano do Curso de Licenciatura em Arquitectura Paisagista da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve, sob orientação do Professor Desidério Batista e da Arquitecta Paisagista Amélia Santos, no ano lectivo 2012/13. As propostas de intervenção contempladas nos referidos Projectos foram desenvolvidas desde uma perspectiva dinâmica e funcional, de carácter global e integrador, que considera simultaneamente as dimensões temporais, espaciais, económico-sociais, culturais e ambientais. Se os principais problemas do centro histórico de Faro são sobretudo o resultado de inter-relações mal resolvidas de problemas sectoriais de mobilidade, tráfego, habitação, comércio tradicional, eventos culturais, turismo, etc., a sua resolução procura conferir ao espaço público a maior relevância enquanto suporte essencial para o desenvolvimento das diferentes funções e actividades culturais e socioeconómicas.
Mas, o centro histórico de Faro é, em primeiro lugar, um valioso património cultural cuja interpretação, reabilitação e reutilização, requer novas abordagens de projecto que incidindo prioritariamente no espaço público e entendendo o património como um recurso estratégico, pressupõe integrar a componente cultural nos projectos de desenvolvimento da cidade, de que este conjunto de Projectos de regeneração urbana poderá ser considerado um exemplo.
Neste sentido, a estratégia de intervenção é necessariamente global e multidisciplinar, contemplando o património sob todas as formas e em toda a sua complexidade, abarcando simultaneamente os monumentos, a arquitectura vernacular, a paisagem e os eventos culturais. Esta concepção actual de património que procura a integração física e social daquele sistema de espaços públicos (Largos e Jardim) no conjunto urbano, ou seja, na cidade de Faro, inclui operações mais ou menos profundas sobre este tecido urbano, herdado, com a consequente marca formal de quem as faz e as usa.
Projectar com o património no pressuposto de que este tem um valor económico e social, e de que o exercício de projecto considerando os valores patrimoniais deverá ser feito com e para as pessoas, são as ideias-chave subjacentes ao desenvolvimento das distintas propostas de intervenção. Estas baseiam-se na recuperação funcional dos espaços envolventes das igrejas (classificadas como Património Nacional) procurando novos equilíbrios entre as estruturas morfológicas, sociais e funcionais, que sendo respeitosos com os valores urbanísticos, culturais e paisagísticos da cidade do passado, dêem resposta aos problemas e necessidades da cidade do presente, perspectivando a médio e longo prazo, as aspirações da sociedade do futuro, na (re)construção de uma cidade histórica que se pretende sustentável e habitável.
Projectar com o património assenta na ideia de pensar o património de uma forma estratégica e global, visão que implica integrá-lo quer no desenho de projecto, quer na vida urbana e cultura local, perspectivando o seu papel na "nova centralidade" do centro histórico no centro da cidade de Faro.
Estratégia(s) de intervenção
Face aos problemas identificados na fase anterior de análise e diagnose, as propostas de intervenção apoiam-se numa estratégia de reorganização espacial que visa restabelecer a articulação e inter-relação espacial e visual, entretanto perdida, entre as Igrejas, os Largos, o jardim e a paisagem, na redefinição de um todo social e patrimonialmente coeso e equilibrado, considerando a interdependência entre o centro histórico, a cidade e o território envolvente.
As estratégias de intervenção pretendem recriar a unidade que os templos, o espaço público e a paisagem constituem cultural e historicamente. Para isso, tornou-se necessário eliminar barreiras físicas e visuais (vegetação, estacionamento, estruturas e elementos construídos) que ao longo do tempo têm vindo a contribuir para a separação e segregação dos distintos espaços, e que se traduzem na existência de disfunções e conflitos na sua utilização, nomeadamente ao nível da falta de segurança pública, e na degradação do património.
Pelo que, as estratégias de intervenção se por um lado se baseiam na sutura de espaços, entretanto desarticulados, privilegiando a circulação pedonal em detrimento do trânsito automóvel, disciplinando e regrando a circulação rodoviária e o estacionamento, por outro lado procuram o diálogo entre o património edificado (igrejas, casas de arquitectura vernacular) e o património paisagístico (espaço público, árvores, jardim, paisagem urbana) mediante a sua integração no desenho de projecto e posterior inclusão nas vivências sociais e culturais do lugar e da cidade.